Embora o quadro político da Europa ocidental tenha mudado, a rutura não se deu de forma tão acentuada como a defendida por historiadores no passado. Os imperadores do século V eram na maior parte dos casos controlados por militares influentes como Estilicão, Ricimero, Gundobad ou Aspar, e após a interrupção da linha de sucessão, muitos dos reis que os substituíram provinham igualmente de forças militares. Era também comum o casamento entre os novos reis e as elites romanas locais.[30] Isto deu origem a uma incorporação dos hábitos das tribos invasoras na cultura romana, incluindo assembleias populares que permitiram aos líderes tribais ter uma voz activa em matérias políticas.[31] Os artefactos deixados por Romanos ou pelos invasores são na sua maioria similares, embora seja nítida a inspiração dos objectos tribais nos modelos romanos.[32] De igual modo, a maior parte da cultura intelectual dos novos reinos baseava-se directamente nas tradições intelectuais romanas.[33] No entanto, uma diferença substancial foi a perda gradual de rendimento tributário em função das novas políticas. Muitas das novas instituições governativas já não financiavam os seus exércitos com o dinheiro proveniente de impostos, mas com a atribuição de terras ou senhorios. Isto levou ao desaparecimento do sistema de colecta de impostos, uma vez que deixou de haver necessidade para cobranças ou cálculos de grande envergadura.[34] O belicismo era comum entre reinos e dentro dos próprios reinos. A escravatura entrou também um declínio, à medida que a oferta se reduzia e a sociedade se tornava cada vez mais rural.[35]
Entre os séculos V e VIII, uma nova vaga de governantes preenche o vazio político deixado pela administração central romana.[33] Os Ostrogodos estabelecem-se na província romana de Itália no fim do século V, sob o comando de Teodorico, e dão início a um reino notável pela cooperação entre Itálicos e Ostrogodos, pelo menos durante o seu reinado.[36] Os burgúndios estabelecem-se na Gália, e depois de um primeiro reino dizimado pelos Hunos em 436, formam um novo na década de 440 entre a actual Genebra e Lyon, e que durante o início do século VI se viria a tornar num dos mais influentes reinos da região.[37] No norte da Gália, os Francos e os Bretões formam pequenos reinos. O reino franco tem origem no noroeste da Gália e o primeiro reinante do qual se possui informação suficiente é Childerico I, que viria a morrer em 481.[nota 2] Durante o reinado do seu filho, Clóvis I, o reino franco expande-se e converte-se ao cristianismo. Os Bretões estabelecem-se no que é hoje a Bretanha.[39] Os Visigodos estabelecem o seu reino no que é hoje a Espanha, sendo o noroeste da península Ibérica ocupado pelo reino suevo e o norte de África pelo reino Vândalo.[37] Durante o século VI, os Lombardos estabelecem-se no norte de Itália, substituindo o reino ostrogodo por ducados responsáveis pela eleição de um rei governante. Por volta do fim do século VI, este sistema foi substituído por uma monarquia permanente.[40]
A migração europeia significou uma alteração profunda do mapa demográfico da Europa, mas o povoamento não foi homogéneo. Algumas regiões, como a península Ibérica, albergaram um muito maior número de colonos em relação a outras regiões. A ocupação da Gália foi também muito maior e mais densa no noroeste do que no sudeste. Os povos Eslavos ocuparam a Europa Central e de Leste até à península Balcânica. Esta migração foi também acompanhada por alterações profundas na língua. O latim, língua oficial do Império Romano do Ocidente, foi gradualmente substituído por línguas em si baseadas, mas suficientemente distintas. No entanto, a evolução do Latim para as novas línguas como o francês, português ou romeno foi um processo que ocorreu ao longo de séculos, e atravessou uma série de fases. O grego manteve-se a língua oficial do Império Bizantino, mas as migrações dos Eslavos permitiram a assimilação de línguas eslavas.[41]