A cristandade foi o fator determinante de unidade entre a Europa oriental e ocidental antes da conquista árabe; no entanto, a perda do domínio doMediterrâneo viria a estagnar as rotas comerciais marítimas entre as duas regiões. A própria Igreja Bizantina, que viria a tornar-se na Igreja Ortodoxa, era distinta em termos de práticas, liturgia e língua da sua congénere ocidental, que viria a tornar-se na Igreja Católica. As diferenças teológicas e políticas tornam-se cada vez mais vincadas, e em meados do século VIII a abordagem de matérias como a iconoclastia, o casamento de sacerdotes e a separação de poderes entre a igreja e o Estado era de tal forma contrastante que as diferenças culturais e religiosas eram já em maior número do que as semelhanças.[50] A separação formal ocorre em 1054, quando o Papado de Roma e o patriarcado de Constantinopla se confrontam abertamente e se excumungam mutuamente, facto que está na origem da cisão da Cristandade em duas Igrejas – a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental.[51]
A estrutura eclesiástica do Império Romano no ocidente sobreviveu relativamente intacta às invasões bárbaras, mas o papado pouca autoridade exercia, sendo raros os bispos ocidentais que procuravam no papa liderança religiosa ou política. A maior parte dos papas anteriores a 750 debruçava-se sobretudo sobre questões bizantinas e teológicas orientais. A grande maioria das mais de 850 cartas hoje conservadas do papa Gregório I dizem respeito a assuntos em Itália ou Constantinopla. A única região da Europa Ocidental onde o papado exercia influência era a província romana daBritânia, para onde Gregório envia em 597 a missão gregoriana com o intuito de converter os Anglo-saxões ao cristianismo.[52] Os missionários irlandeses, que entre os séculos V e VII foram os mais activos na Europa ocidental, foram autores de várias campanhas de cristianização, primeiro nasIlhas Britânicas e depois no continente. Contando entre si monges como São Columba e São Columbano, não só fundaram um imenso número demosteiros, mas também foram os responsáveis pela divulgação do Latim e do Grego e autores profícuos de obras seculares e religiosas.[53]
Durante a Alta Idade Média assiste-se à implementação do monaquismo (ou "monastiscismo") no Ocidente, inspirado sobretudo pela tradição monástica dos desertos Sírio e Egípcio. São Pacómio foi durante o século IV um dos pioneiros do cenobitismo, o monaquismo praticado em redor de uma comunidade espiritual. Os ideais monásticos são rapidamente difundidos da mediterrâneo para a Europa durante os séculos V e VI através da documentos hagiográficos como a A Vida de Antão.[54] São Bento de Núrsia foi o autor da Regra de São Bento, extremamente influente no monaquismo ocidental durante todo o século VI, onde são descritas em detalhe as responsabilidades administrativas e espirituais de uma comunidade de monges, liderada por um abade.[55] Os mosteiros exerceram uma influência profunda na vida religiosa e política da Alta Idade Média, tutelando vastas regiões em nome de famílias poderosas, actuando como centros de propaganda e de apoio monárquico em regiões recentemente conquistadas, e organizando missões de evangelização.[56] Eram também o principal, e por vezes único, centro de educação e literacia em determinada região, copiando também muitos dos manuscritos sobreviventes dos clássicos romanos.[57] Os monges, como São Beda, foram também autores de inúmeras novas obras de história, teologia, botânica e vários outros temas.[58]